CONSTRANGIMENTOS E DECLÍNIO

Apesar de Mark Frost ter sido, desde o momento zero, tão responsável quanto David Lynch pela imposição cultural de que Twin Peaks auferiu, é certo que é ao realizador de Mulholland Drive e Lost Highway que, quase em exclusivo, se tem atribuído a autoria da série. E é ele que, hoje em dia, responde pelo declínio que, sobretudo a partir do momento em que é desvendada a identidade do assassino de Laura Palmer, a série sofreu.
Considera o cineasta que é inevitável que uma tremenda sensação de desapontamento se siga à resolução de uma questão que nos intriga e apaixona. E a sua vontade, sabe-se hoje, teria sido adiar ad eternum a solução para o crime, contrapondo a esse cenário de círculo fechado a infinitude de enredos paralelos que as personagens vivas de Twin Peaks tinham para oferecer. Não foi essa, porém, a vontade da ABC. Impaciente com o constante adiamento da questão quem matou Laura Palmer, a direcção do canal obrigou Lynch a revelar o mistério. E a isso seguiu-se o declínio das audiências. Mudanças várias no horário de emissão da série não ajudaram a obter do público o interesse que, até esse momento, Twin Peaks lhes tinha merecido. O constante surgimento de elementos cada vez mais inexplicáveis e bizarros fez com que Twin Peaks começasse a ser vista como uma paródia de si própria. Lynch pareceu perder interesse pelo projecto e, durante a segunda temporada, a sua colaboração activa no que ia sendo produzido foi já francamente diminuta; a pré-produção do filme Wild At Heart já estava, aliás, a concentrar a sua atenção. A gradual e constante perda de audiências levou, para desgosto de muitos, ao cancelamento da série.

Lynch reconheceu que os problemas narrativos impostos pelo meio televisivo, em especial os cortes para publicidade, o constrangeram. “A forma é esta e, logo que se começa a dominar a coisa, chega a ser interessante. Mas, por outro lado, é totalmente absurdo. Tal como seria absurdo assistir a uma orquestra e, de tanto em tanto tempo, parar tudo para que alguém possa vir ao palco vender qualquer coisa, antes de a sinfonia prosseguir”. Saliente-se que, na televisão norte-americana, uma hora de programação chega a conter 15 minutos de publicidade.