INTRODUÇÃO

A menos de um par de anos de completar o 20º aniversário da sua estreia televisiva, Twin Peaks continua a motivar um fascínio que poucas outras séries conseguiram proporcionar. Não raras vezes ocupando o posto cimeiro das tabelas de melhores programas de televisão de sempre, votadas tanto pelo público como pela crítica especializada, esta criação de David Lynch e Mark Frost almejou a rendição dos espectadores a um produto que, ao mesmo tempo que se ia apropriando das convenções típicas de vários géneros televisivos, se apresentou como algo de inteiramente novo. Há quem diga que a ficção criada para o pequeno ecrã não voltou a ser a mesma, desde que o mistério sobre a morte de Laura Palmer se entranhou no espírito de milhões de pessoas, em todo o mundo. O culto gerado em torno de Twin Peaks assumiu, e ainda assume, contornos que em muito ultrapassam os 29 episódios que os autores de Elephant Man e Hill Street Blues apresentaram, nos serões de quinta-feira. Uma breve consulta à Internet é mais do que suficiente para comprovar a imensidão de referências intertextuais que, de forma imparável, se foram gerando à volta das personagens e estranhas ocorrências que, naquela surreal cidade dos arredores de Washington, tiveram lugar.

Nas linhas que se seguem, pretendemos debruçar-nos sobre as razões que terão conduzido ao deslumbramento que acima se refere. E propomos, em simultâneo, uma análise dos géneros televisivos em que Twin Peaks pode ser enquadrada, bem como uma observação da forma como esses mesmos géneros foram, de algo modo, subvertidos.